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ARTIGO ORIGINAL

Valor da oximetria de pulso na avaliação da perfusão da mão para retirada da artéria radial. O teste de Allen é satisfatório?

Renato Bauab DAUAR0; Nilton de BARROS JUNIOR0; Paulo Ruiz Lucio de Lima0; Alberto Takeshi KYIOSE0; Luiz Eduardo Villaça LEÃO0; José Ernesto Succi0

DOI: 10.1590/S0102-76381998000300003

INTRODUÇÃO

A decisão de se utilizar a artéria radial em revascularização baseia-se, entre outros critérios, no teste de Allen, originalmente descrito em 1929 (1) e modificado ligeiramente a partir de então. O resultado do teste baseia-se na observação da velocidade de retorno de coloração da mão, portanto, qualitativo, subjetivo e sujeito a variação entre os observadores. Com o propósito de tornar a avaliação do teste mais objetiva, qualitativa e independentemente do observador, propomos a utilização de oximetria de pulso, que tem demonstrado boa correlação com a perfusão e oxigenação dos membros (2-4).

CASUÍSTICA E MÉTODOS

Foram estudadas 50 artérias radiais (AR) e 50 artérias ulnares (AU) de 25 pacientes internados em enfermaria, escolhidos aleatoriamente, com idade mínima de 45 anos, máxima de 72 anos e média de 58,5 anos. Dezenove eram do sexo masculino e 6 do sexo feminino.

As medidas foram tomadas com os pacientes em decúbito dorsal horizontal sem uso de medicação endovenosa contínua, em condições cardiorespiratórias estáveis e sem alterações vasculares conhecidas nos membros superiores.

Utilizou-se, para avaliação da perfusão da mão, o oxímetro de pulso portátil da marca Ohmeda com o dedal colocado no 2º dedo e para estimativa do fluxo arterial empregou-se o Doppler portátil de fluxo contínuo da marca Park Medical Eletronics.

Todos os estudos foram realizados pelo mesmo examinador.

O estudo se iniciou pela verificação da integridade dos pulsos radial e ulnar ao Doppler, seguido pelo registro oximétrico com o dedal posicionado no dedo indicador, obtendo-se a saturação inicial (Sat I). A seguir, realizou-se o teste de Allen (TA) comprimindo-se, simultaneamente, ambas as artérias no pulso com os polegares do examinador, obtendo-se palidez cutânea, acompanhado por movimentos de abertura e fechamento da mão pelo paciente, por dez vezes consecutivas. Logo após, descomprimiu-se, com a mão aberta, a artéria ulnar, observando-se o tempo de retorno da coloração palmar, classificando-o em satisfatórios (S) quando abaixo de 5 segundos e insatisfatório (I) quando acima disto.

Obtidos estes dados, recolocou-se o oxímetro no 2º dedo, aguardando-se a estabilização da onda de pulso com repetição do teste de Allen modificado, verificando-se, na compressão dos pulsos, a ausência de onda de pulso no oxímetro, comprovando-se pelo Doppler a ausência de fluxo na artéria radial distalmente à compressão (Figura 1). Logo após, descomprimiu-se a artéria ulnar, observando-se o retorno da onda de pulso e a saturação final (Sat F).


Fig. 1 - Esquema do procedimento realizado após liberação do pulso ulnar.

Valores obtidos da saturação inicial e final e avaliação do teste de Allen, classificado como satisfatório e insatisfatório, foram anotados em cada exame e comparados entre si, para determinação de sensibilidade e especialidade do TA.

RESULTADOS

Em todos os casos o Doppler não evidenciou fluxo pela AR, distalmente à compressão digital.

O teste de Allen (TA) foi considerado insatisfatório em 15 (30%) dos 50 exames (Tabela 1). Por outro lado, a diferença oximétrica Sat I - Sat F foi de 0-2 pontos em 49 (98%) das 50 medidas e em 1 caso este valor foi de 4 pontos (Tabela 2). Em apenas 1 (2%) caso (Tabela 2 - caso nº 1 lado E) houve associação de TA insatisfatório e Sat I - Sat F de 4 pontos (não esperada). Tomando-se a diferença Sat I - Sat F de 0 a 2 pontos como indicativo de perfusão palmar satisfatória e Sat I - Sat F de 4 pontos como perfusão palmar insatisfatória e comparando-a com o resultado do teste de Allen, obtivemos os valores de sensibilidade e especificidade do mesmo (Tabela 3).







COMENTÁRIOS

Na avaliação de 50 arcadas palmares, observou-se discrepância entre a avaliação do teste de Allen e os valores da oximetria em 14 (28,6%) dos 49 exames (Tabela 3). Esta diferença entre a avaliação oximétrica e o teste de Allen poderia levar o examinador que considerasse apenas TA, a desprezar em quase 1/3 das vezes a artéria radial.

O TA insatisfatório em 30% dos nossos pacientes coteja com dados de BENIT et al. (5) que fornecem cifras de 27% em série de 1000 testes realizados.

Todos TA considerados satisfatórios tiveram a diferença Sat I - Sat F de 0 à 2 pontos e em 1 caso com TA insatisfatório a oximetria teve queda de 4 pontos em relação à inicial. Isto nos permite considerar, para o presente estudo, a diferença Sat I - Sat F de 0 a 2 pontos como indicativo de boa perfusão palmar.

Segundo a Tabela 2 podemos ver que o único caso (nº 1 da Tabela 1 lado E) de queda oximétrica maior (perfusão palmar comprometida) correlacionou-se com o TA insatisfatório, conferindo sensibilidade de 100% ao teste, mas apenas 35 em 49 exames onde a queda oximétrica foi pequena (perfusão palmar satisfatória) o TA foi satisfatório conferindo-lhe especificidade de 71,4%.

CONCLUSÃO

A oximetria, nos casos estudados, serviu como método objetivo de avaliação da perfusão palmar.

Uma queda de 2 a 4 pontos na oximetria é considerada para este estudo como indicativo de boa perfusão palmar.

O teste modificado de Allen parece insuficiente para a avaliação da perfusão palmar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 Edgar V A - Tromboangiitis obliterans. Am J Med Sci 1929; 178: 237.

2 Lin G, Kais H, Halpern Z et al. - Pulse oxymetry evaluation of oxygen saturation in the upper extremity with an arteriovenous fistula before and during hemodialysis. Am J Kidney Dis 1997; 29: 230-2.

3 Gerlif C, Nielsen M D, Thigersen C, Andersen L I - Screening for prehypoxemia with oxymetry: a study of two methods. Ugeskr Laeger 1995; 157: 3897-900.

4 Duchna H W, Rasche K, Orth M, Schutze-Werninghus G - Sensitivity and specificity of pulse oxymetry in diagnosis of sleep-related respiratory disorders. Pnemologie 1995; 49 (Suppl 1): 113-5.

5 Benit E, Vranckx P, Jaspers L, Jackmaert R, Poelmans C, Coninx R - Frequency of a positive modified Allen's test in 1000 consecutive patients undergoing cardiac catheterizacion. Cathet Cardiovasc Diagn 1996; 38: 352-4.

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