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Checklist em Cirurgia Cardíaca Pediátrica no Brasil: uma adaptação útil e necessária do International Quality Improvement Collaborative for Congenital Heart Surgery in Developing Countries

Ulisses Alexandre Croti; Kathy J Jenkins; Domingo M Braile

DOI: 10.5935/1678-9741.20110034

Em maio de 2009, foi firmada uma parceria entre a Children''s HeartLink Foundation e o Serviço de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica de São José do Rio Preto, no Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). Desde então, temos introduzido mudanças com o intuito de identificar os fatores de morbidade e mortalidade, estabelecer rotinas adequadas e melhorar a qualidade de atendimento às crianças com cardiopatias congênitas e adquiridas na infância em nosso meio [1].

Uma das oportunidades oferecidas pela Children's HeartLink Foundation foi a participação no Internacional Quality Improvement Collaborative for Congenital Heart Surgery in Developing Countries, programa do Boston Children's Hospital - Harvard Medical School - Estados Unidos da América, coordenado pela Dra. Kathy Jenkins [1].

Com esse programa, passamos a participar de um banco de dados mundial, baseado no RACHS-1 [2]. Todos os pacientes operados recebem um número para evitar identificação e as informações dos primeiros 30 dias ou até a alta hospitalar são enviadas via Internet para o grupo do Boston Children's Hospital, o qual periodicamente nos informa sobre nossos resultados para que possamos identificar as falhas e corrigi-las.

O mesmo grupo, também, ministra videoconferências todos os meses (denominadas webinars), previamente agendadas e com temas definidos, o que permite o aprendizado à distância e facilita o diálogo entre nosso grupo no Brasil e o grupo dos Estados Unidos da América.

O objetivo fundamental dessas aulas e do programa é diminuir a mortalidade em 30 dias e, para isso, três grandes temas têm sido apresentados e discutidos durante o ano todo: práticas básicas para a equipe, redução de infecção dos sítios cirúrgicos e sepse bacteriana e práticas seguras durante a operação.

O checklist para cirurgia cardíaca pediátrica, adaptado, que apresentamos a seguir é parte das práticas seguras durante a operação. Deve ser utilizado para melhorar o atendimento ao paciente, melhorar a comunicação e a dinâmica de trabalho da equipe na sala de operação, representando segurança no ambiente de trabalho para o paciente e para os profissionais.

O vídeo desse artigo é autoexplicativo e demonstra uma das rotinas que estamos utilizando e acreditamos que ajuda evitar falhas no atendimento à criança, permitindo real e efetiva continuidade durante o tratamento do defeito cardíaco no pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório imediato na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Determinar um cirurgião, um anestesista e uma instrumentadora para serem responsáveis pela implantação do checklist são os primeiros passos para o sucesso e aderência de todos da equipe. Também um grande cartaz deve ser afixado na parede do centro cirúrgico, para que no momento de realização do checklist nenhum item seja esquecido. A palavra chave é: comunicação.

Estamos convictos que o checklist é fácil de usar, evita erros e melhora a segurança do paciente.

Esperamos que todos os Serviços no Brasil possam utilizar esse processo, que, como já foi demonstrado pela Organização Mundial da Saúde, salva vidas e pode ser mais uma ferramenta para melhorar a situação da cirurgia cardíaca pediátrica no Brasil [3,4].

 

DESCRIÇÃO DO VÍDEO

O checklist é dividido basicamente em quatro partes: antes da indução anestésica, antes da incisão da pele, após o término da operação e na passagem do caso operado à equipe da UTI (Figura 1).

 

 

PARTE I - ANTES DA INDUÇÃO

O anestesista e o circulante confirmam juntos os dados do paciente, o local da operação, o procedimento a ser realizado, alergias a medicamentos, plano para manter o paciente aquecido e a necessidade de sangue na sala de operações.

O anestesista fala sobre os acessos venosos e a intubação.

 

PARTE II - ANTES DA INCISÃO DA PELE

Todos os membros da equipe se apresentam por nome e qual papel devem desempenhar durante o procedimento.

O cirurgião confirma novamente o nome do paciente, local e tipo da operação. Explica sobre os exames mais importantes, confere se todos os materiais e equipamentos necessários estão disponíveis, quanto tempo pode durar o procedimento e a necessidade de próteses.

O perfusionista confirma detalhes da canulação, temperatura mínima durante a circulação extracorpórea, cardioplegia, necessidade de parada circulatória total e outros detalhes necessários para perfusão adequada e segura, podendo utilizar um checklist próprio da perfusão (Figura 2), diferente da ficha de perfusão que deve ser preenchida durante o procedimento (Figura 3).

 

 

 

 

O anestesista confirma a administração de antibióticos e sua manutenção, o adequado funcionamento das pás de desfibrilação cardíaca e bombas de infusão de drogas.

O circulante confirma se todos os materiais necessários estão na sala.

Dessa forma, estando todos de acordo e cientes do procedimento, o início da operação é autorizado simultaneamente pela equipe.

 

PARTE III - APÓS O TÉRMINO DA OPERAÇÃO

O cirurgião, o instrumentador e o circulante confirmam juntos com a equipe o procedimento que foi realizado e fazem a conferência de gazes e outros materiais.

 

PARTE IV - PASSAGEM DO CASO PARAA UTI

Na UTI, o cirurgião explica a toda a equipe que está recebendo o paciente a operação realizada, possíveis complicações e riscos.

O anestesista explica os cuidados com a ventilação, drogas administradas, estabilidade hemodinâmica, achados do ecocardiograma quando realizado na sala de operações, disponibilidade de hemoderivados e outros dados que entenda serem importantes.

O cirurgião, anestesista, intensivista, fisioterapeuta e enfermeiros discutem juntos o caso do paciente e fazem o planejamento para as primeiras 24 horas na UTI.

Dessa forma, conclui-se o checklist para cirurgia cardíaca pediátrica.

REFERÊNCIAS

1. Croti UA, Braile DM Cooperação Internacional no Brasil : Children's HeartLink. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2010;25(1):VIII-IX. [MedLine] Visualizar artigo

2. Jenkins KJ, Gauvreau K, Newburger JW, Spray TL, Moller JH, Iezzoni LI Consensus-based method for risk adjustment for surgery for congenital heart disease. J Thorac Cardiovasc Surg. 2002;123(1):110-8. [MedLine]

3. Pinto Jr VC, Daher CV, Sallum FS, Jatene MB, Croti UA Situação das cirurgias cardíacas congênitas no Brasil. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2004;19(2):III-VI. Visualizar artigo

4. Haynes AB, Weiser TG, Berry WR, Lipsitz SR, Breizat AH, Dellinger EP A surgical safety checklist to reduce morbidity and mortality in a global population. N Engl J Med. 2009;360(5):491-9. [MedLine]

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