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ARTIGO ORIGINAL

Tamponamento cardíaco de causa não cardíaca: relato de caso

Hércules Lisboa BongiovaniI; João Otávio Freitas JúniorI; Vicente CatanzaroI; Fábio Souza e SilvaI; Elza Helena F BongiovaniI

DOI: 10.1590/S0102-76381996000100010

INTRODUÇÃO

Os ferimentos penetrantes do tórax na região do precórdio normalmente refletem um quadro de extrema gravidade, necessitando, de imediato, toracotomia para correção das lesões, sejam elas cardíacas e/ou de estruturas circunvizinhas.

A causa mais comum de tamponamento é o ferimento cardíaco.

Apresentamos um caso de tamponamento sem ferimento do coração.


RELATO DO CASO

Paciente de cor branca, com 38 anos de idade, do sexo masculino, foi atendido no serviço de emergência com quadro de agitação, ligeira cianose, bulhas abafadas e hipotensão arterial acentuada.

Apresentava ferimento de aproximadamente 1,5 cm de extensão no precórdio, na altura do mamilo esquerdo. A radiografia de tórax não mostrava pneumotórax ou cardiomegalia. Com a suspeita de tamponamento cardíaco, o paciente foi submetido imediatamente a toracotomia exploradora através do 5º espaço intercostal esquerdo. O pericárdio estava muito distendido; mediante incisão longitudinal, foi retirada grande quantidade de sangue e coágulos. Neste instante, o paciente encontrava-se em estado crítico, apresentando bradicardia acentuada, que evoluiu para assistolia.

Após as manobras de ressuscitação e estabilização do quadro, foi feita uma inspeção minuciosa do coração e não foi encontrado nenhum ferimento. Havia perfuração do pericárdio em fase diafragmática e lesão de lobo esquerdo do fígado (Figura 1). Foi feita rafia do pericárdio e, a seguir, por laparotomia, rafia da lesão hepática.


Fig. 1



Após a cirurgia, o paciente foi encaminhado à UTI, estável hemodinamicamente e sinais de lesão cerebral. Foi mantido em assistência ventilatória por 48 horas, vindo a falecer.


COMENTÁRIOS

O tamponamento cardíaco, muitas vezes fatal, pode salvar o paciente de uma hemorragia acentuada e aguda.

O aumento repentino da pressão diastólica e a compressão cardíaca levam ao quadro de choque grave. Muitas vezes a retirada de 20 ml 50 ml de sangue do pericárdio, por punção, reverte ao quadro de tamponamento. No caso em questão, houve uma demora acentuada desde o momento da lesão até o atendimento final; provavelmente, o paciente permaneceu em choque durante todo esse tempo, o que contribuiu em muito para a má evolução.

Outro ponto importante a ser enfatizado é a maneira de abordagem preconizada para esses casos, que é a punção do pericárdio antes da indução anestésica. Com a melhora do choque e estabilização da pressão arterial, procede-se à toracotomia por esternotomia, maneira mais rápida de se alcançar o pericárdio, além da facilidade da instalação de circulação extracorpórea, quando necessário.

Article receive on quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996

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