Article

lock Open Access lock Peer-Reviewed

11

Views

ARTIGO ORIGINAL

Revascularização direta do miocárdio com as duas artérias mamárias internas: análise de 442 casos

Marcelo B Jatene; Luiz Boro Puig; Fábio B Jatene; Antônio F Ramires; Sérgio de Almeida Oliveira; Luís Alberto Dallan; Ronaldo D Fontes; Adib D Jatene

DOI: 10.1590/S0102-76381990000200002

Texto completo disponível apenas em PDF.



Discussão

DR. MARCOS F. BERLINCK
São Paulo, SP

Meus cumprimentos ao Dr. Marcelo, pelo trabalho muito bem apresentado, reportando uma casuística com excelentes resultados. A conduta, em nosso Serviço, é semelhante àquela aqui relatada. Com relação à técnica operatória, creio haver total concordância. Com os novos bisturis elétricos, a dissecção da artéria mamária tornou-se um procedimento simples, fácil de ser realizado e acessível aos residentes que hoje, precocemente, o realizam. Nós temos operado 3790 pacientes com enxertos de artéria mamária, dos quais 374 com as duas artérias mamárias. A mortalidade imediata foi agualmente baixa (1,8%). Temos empregado a artéria mamária direita muito freqüentemente (135/374) como enxerto livre, evitando usá-la in situ em condições não ideais, isto é, em segmentos mais distais, mais finos ou situações em que o pedículo fique um pouco tenso. Com o enxerto livre, podemos usar ambas as artérias mamárias em condições ideais de calibre e tensão. Assim, preferimos usar a mamária direita in situ para a artéria coronária direita, ou para revascularizar os ramos da artéria circunflexa. Quando isto não é viável, preferimos usá-la como enxerto livre, sendo, então, anastomosada à artéria descendente anterior utilizando a mamária esquerda in situ para a circunflexa. Podemos, deste modo, decidir a melhor posição para as duas mamárias. Gostaria de perguntar se o Dr. Marcelo tem alguma restrição a usar a mamária direita para a artéria coronária direita e, ainda, nos casos de reoperação, se tem preocupação de trocar uma ponte antiga funcionante para artéria com obstrução crítica por um enxerto de mamária. Concluindo e reforçando o que foi aqui demonstrado pelo Dr. Marcelo, afirmamos que, se, no passado, o uso de ambas as artérias mamárias ficava reservado para casos com falta de opção, ou para pacientes que apresentassem veias inadequadas, hoje, a tendência é de usá-las cada vez mais, pois são consideradas como enxerto ideal para revascularização mamária.

DE. MARCELO JATENE
(Encerrando)

Meus agradecimentos ao Dr. Marcos, pelos comentários objetivos e pertinentes, e meus cumprimentos a ele e todo seu Serviço, sob a chefia do Prof. Sérgio de Oliveira, pela excelente casuística, com um grande número de casos e baixa taxa de mortalidade imediata. Referindo-me diretamente aos seus comentários, somos de total acordo em que, uma vez tendo sido feita a escolha prévia das duas artérias mamárias como enxertos de eleição num determinado caso, o seu emprego ou in situ ou como enxerto livre, vai depender das circunstâncias no ato operatório, como, por exemplo, anastomoses em seguimentos mais distais das coronárias onde a mamária utilizada in situ não tenha comprimento suficiente ou fique sob tensão; nestes casos, as utilizamos como enxerto livre. Em nosso material, 99% das mamárias esquerdas foram utilizadas in situ, preferencialmente para a descendente anterior. Quanto à mamária direita, em 88% dos casos ela foi usada in situ, preferencialmente para a circunflexa ou seus ramos marginais em posição retro-aórtica, o que acreditamos ser uma boa opção, seguindo o que foi descrito pelo Prof. Puig. Quando nos vemos frente a alguma das situações de dificuldade técnica já comentadas, as utilizamos como enxerto livre, mais comumente para a descendente anterior. A opção vai ser particular em cada caso. Quanto ao uso da mamária direita para a coronária direita, as restrições ao seu uso serão as mesmas já comentadas previamente, como dificuldade técnica, tensão no enxerto, anastomose distai, etc. No entanto, em nossa experiência, os resultados menos favoráveis a longo prazo, quanto à patencia dos enxertos, foram obtidos quando se usou a mamária direita para a coronária direita. O número de reestudos, em nosso material, que comprovaram tal fato ainda é pequeno para que possamos concluir ou afirmar que esta associação mamária coronária deve ser proscrita; no entanto, em função dos resultados obtidos, a utilização da mamária direita para a coronária direita tem sido reservada a situações mais favoráveis, como em pacientes jovens, biarteriais com boa função ventricular e lesões proximais com leito distal adequado. Quanto à troca da ponte por mamária nos casos de reoperação, alguns aspectos devem ser ressaltados: a importância da artéria em questão; a qualidade e o calibre da mamária, que, se for de pequeno calibre e a coronária de grande importância, a troca de uma antiga ponte por uma mamária menos calibrosa pode ser prejudicial quanto ao menor fluxo da mamária, se comparado ao fluxo da safenae, por fim, a qualidade cineangiográficaeintraoperatória da veia safena, que, se estiver em condições boas, não deve ser substituída. Mais uma vez, agradeço os comentários do Dr. Marcos, bem como a oportunidade de apresentar este trabalho, e reforço a importância do uso cada vez mais freqüente dos enxertos de mamária, cujos resultados a curto e longo prazo têm se mostrado bastante satisfatórios. Muito obrigado.

REFERÊNCIAS

1. BARNER, H. H. - Double internal mammary artery bypasso Arch. Surg., 109: 627-630, 1974. [MedLine]

2. BARNER, H. B.; STANDEVEN, J. W.; REESE, J. - Twelve-year experience with internal mammary artery for coronary artery bypass . J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 90: 668-675, 1985. [MedLine]

3. COSGROVE, D. M.; LOO, F. D. ; LYTLE, B. W.; GOORMASTIC, M. ; STEWART, R. W.; GILL, C. C.; GOLDING, L. R. - Does mammary artery grafting increase surgical risk? Circulation, 72 (Supl. 2): 170-174, 1985.

4. CUSHING, W. J.; MAGOVEN, G. J.; OLEARCHYK, A. S. - Internal mammary artery graft: retrospective report with 17 years survival. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 92: 963-964, 1986. [MedLine]

5. EUROPEAN CORONARY SURGERY STUDY GROUP - Long-term results of prospective randomised study of coronary artery bypass surgery in stable angina pectoris. Lancet, 2: 1173-1180, 1982. [MedLine]

6. FLEISS, J. L. - Statistical methods for rates and proportions. 2. ed. New York, John Willy and Sons, 1981.

7. GREEN, G. E.; KEM, H. G.; ALAM, S. E.; PERSON Jr., M. R. N.; FRIEDMAN, M. I.; DAVID, I. - Coronary bypass surgery: five-year follow-up of consectuve series of 140 patients. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 77: 48-56, 1979. [MedLine]

8. GRONDIN, C. M.; CAMPEAU, L.; LESPERANCE, J.; ENJALBERT, M.; BOURASSA, M. G. - Comparison of late changes in internal mammary artery and saphenous vein grafts in two consecutive series of patients 10 years after operation. Circulation, 70 (Supl. 1): 208-212, 1984.

9. LYTLE, B. W.; COSGROVE, D. M.; LOOP, F. D.; BORSH, J.; GOORMASTIC, M.; TAYLOR, P. C. - Perioperative risk of bilateral internal mammary artery grafting: analysis of 500 cases from 1971 to 1984. Circulation, 74 (Supl. 3): 37-41, 1986.

10. LYTLE, B. W.; COSGROVE, D. M.; SALTUS, G. L.; TAYLOR, P. C.; LOOP, F. D. - Multivessel coronary revascularization without saphenous vein: long-term results of bilateral internal mammary artery grafting. Ann. Thorac. Surg., 36: 540-547, 1983. [MedLine]

11. LYTLE, B. W.; LOOP, F. D.; COSGROVE, D. M.; RATLIFF, N. B.; EASLEY, K.; TAYLOR, P. C. - Long-term (5 to 12 years) serial studies of internal mammary artery and saphenous vein coronary bypass grafts. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 89: 148-258, 1985.

12. OKIES, J. E.; PAGE, V. S.; BIGELOW, J. C.; KRAUSE, A. T. T.; SALOMON, N. W. - The left internal mammary artery: the graft of choice. Circulation, 70 (Supl. 1): 213-221, 1984.

13. SHAPIRA, N. & LEMOLE, G. M. - Bilateral sequential IMA grafting. Ann. Thorac. Surg., 38: 301, 1984. (Carta ao Editor). [MedLine]

14. SINGH, R. N.; SOSA, J. A.; GREEN, G. E. - Long-term fate of the internal mammary artery and saphenous vein grafts. J. Thorac Cardiovasc. Surg., 86: 359-363, 1983. [MedLine]

15. TECTOR, A. J.; SCHMAHL, R. M.; JANSON, B.; KALLIES, J. R. - The internal mammary artery graft. JAMA, 246: 2181-2183, 1981. [MedLine]

CCBY All scientific articles published at bjcvs.org are licensed under a Creative Commons license

Indexes

All rights reserved 2017 / © 2024 Brazilian Society of Cardiovascular Surgery DEVELOPMENT BY