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ARTIGO ORIGINAL

Estudo multicêntrico da bioprótese porcina Labcor

Fernando A LuccheseI; João Ricardo SantanaI; Ivo A NesrallaI; Cláudio A SallesII; Carlos S FigueiroaIII; Nílcio Cunha LoboII; Dielson T SampaioII; José Wanderley NetoIII; Rita de Cássia VerasIII; Gilvan DouradoIII; Daniel TorresIII; Antônio De BiazeIII; Josalmir Melo do AmaralIII; Orlando Gomes de OliveiraIV; Jefferson ChavesIV; José Telles de MendonçaV

DOI: 10.1590/S0102-76381988000300003

Texto completo disponível apenas em PDF.



Discussão

Dr. CAMILO ABDULMASSIH NETO
São Paulo, SP

Cumprimentando o Dr. Lucchese, pelo trabalho apresentado, quero comentar pontos que julgo fundamentais, sobre a prótese de porco e que não foram ainda mencionados neste plenário. São as disfunções ocasionadas pelas perfurações do tecido biológico, descritas na Universidade de Bethesda, por Ishihara e Ferrans, que as classificaram em 4 tipos. O 1º tipo são as lesões que envolvem a parte livre da cúspide e que ocorrem, igualmente, em posição aórtica e mitral; são microscopicamente devidas à queda do colágeno; o 2º tipo consiste numa perfuração na base da lascínia; o 3º tipo são as lesões maiores, perfurações ovais, que acontecem, também, no centro das cúspides e, às vezes, podem ser acompanhadas de infecção; o 4º tipo são pequenas lesões perfurantes associadas a depósito de cálcio e são mais comuns em posição mitral do que em posição aórtica; fato interessante é que esta lesão não acontecia na cúspide coronariana direita, nas próteses inicialmente produzidas, quando era deixada esta cúspide, que era protegida pela banda muscular; daí, podemos inferir que esta lesão é conseqüente a uma fraqueza do tecido colágeno, possivelmente, por existirem espaços na camada esponjosa deixados durante a fixação; esses espaços seriam preenchidos por elementos sangüíneos, dando início a um processo de calcificação e de degeneração. Outro ponto que nós gostaríamos de destacar é o da existência de gradientes mais significativos em tamanhos menores desta prótese. A nossa experiência, ou melhor, a do Serviço no qual trabalhamos, o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, data de 1973, quando iniciamos com a bioprótese de dura-máter e, atualmente, usamos igual percentagem de próteses mecânicas e próteses biológicas. (Slide) Aqui, vocês observam uma perfuração central, ocorrida num paciente com apenas 2 anos de evolução. (Slide) Este slide mostra um tipo de paciente que apresentava escape paravalvular importante e que, na reoperação, obsevamos, em um ano apenas de evolução, pequenos pontos de cálcio, que, talvez, pudessem ser o início da lesão tipo 4, descrita por Ferrans. (Slide) Outro aspecto importante e que é um apanágio dessa válvula, é a endocardite por micobactérias atípicas. Nós tivemos um caso em que presenciamos a existência do Mycobacterium chelonei, que tem o porco como seu habitat. (Slide) Aqui, vocês observam a válvula com endocardite, retirada apenas 30 dias após a cirurgia; note-se a face ventricular, mostrando vegetações. Então, pela nossa experiência e da literatura, a prótese de porco nada difere das outras e apresenta a mesma susceptibilidade à falência do tecido que a de pericárdio bovino. Por estas razões, damos preferência, em posição atrioventricular, à bioprótese de pericárdio bovino e, em posição aórtica, às próteses metálicas. Muito obrigado.

Dr. PAULO BROFMAN
Curitiba, PR

Senhor presidente, senhor secretário, Dr. Lucchese, senhoras e senhores. São vários os fatores que influenciam a performance de uma prótese: a experiência do cirurgião, a experiência do cardiologista no acompanhamento do paciente, a localização anatômica, o período de acompanhamento do paciente e da prótese, o estado anatomopatológico da valva nativa e da prótese prévia, se existir. O trabalho apresentado pelo Dr. Lucchese, como sempre, é de excelente qualidade, porém peca no tempo de evolução; não se pode avaliar a performance de uma bioprótese com seguimento de até 4 anos; aceita-se, atualmente, como tempo razoável de evolução média, aproximadamente 5 anos; esse período, conforme o Dr. Lucchese já disse, serve apenas para avaliar os resultados cirúrgicos através da análise preliminar dos dados. Este trabalho, porém, tem o mérito de demonstrar a capacidade criativa no desenvolvimento e aperfeiçoamento de mais uma prótese valvular brasileira e o esforço de realizar um trabalho multicêntrico envolvendo Serviços com características geográficas e sócio-econômicasdistintase permitindo que um universo de pacientes tenha um peso fundamental, na qualidade e na especificidade do trabalho. Parabéns aos autores.

Dr. LUCCHESE
(Encerrando)

Tenho a impressão de que todas as coisas foram ditas. Devo dizer ao Dr. Camilo que apreciei muito os dados que ele trouxe e que, talvez, ainda mereçam maior estudo. Nós temos experiência, no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, com 3 tipos de válvulas de porco: a Lifemed, a Biocor e a Labcor. A experiência maior deve estar com a Biocor, em números, inclusive com maior seguimento. Temos experiência, também, com a válvula IMC de pericárdio bovino. Bem, não me lembro que a perfuração seja um problema grande na nossa experiência, ou então, talvez nós estejamos usando, semanticamente, o nome perfuração para casos de rotura. Sem dúvida, um trabalho como este apresentado é importante e deve ser continuamente reavaliado. Sempre que um novo dispositivo entra no mercado, deve ser periodicamente avaliado quanto à qualidade do desenpenho, mesmo antes que atinja um tempo adequado. A melhor forma de se fazer isto é reunir os grupos e analisar os resultados, porque, com isto, podemos evitar algumas catástrofes. Então, a idéia final do trabalho e seu objetivo são, exatamente, demonstrar o ponto de vista preliminar de que, cirurgicamente, a prótese tem um desempenho adequado e deve ser acompanhada a longo prazo e, presumivelmente, produzir bons resultados. Agradeço ao Dr. Paulo e ao Dr. Camilo, pelos seus comentários.

REFERÊNCIAS

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