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ARTIGO ORIGINAL

Revascularização direta do miocárdio sem circulação extracorpórea: estudo crítico dos resultados em 391 pacientes

Ênio Buffolo; José Carlos S Andrade; José Ernesto Succi; Luiz E. V Leão; João Nelson Rodrigues Branco; Clotário Cueva; Luciano F Aguiar; Costabile Gallucci

DOI: 10.1590/S0102-76381986000100005

Texto completo disponível apenas em PDF.


Discussão

DR. RÉGIS JUCÁ
Fortaleza, CE

Gostaríamos de cumprimentar o Dr. Buffolo e seus associados por mais esta criativa contribuição científica.

Entretanto, não temos usado a técnica empregada pelos autores, porque, com o uso convencional da circulação extracorpórea, temos obtido bons resultados na cirurgia de revascularização do miocárdio. Nos primeiros 100 casos, a partir de outubro de 1972, quando iniciamos este tipo de cirurgia no Hospital de Messejana, a nossa mortalidade foi de 4%, sem seleção de pacientes. Entre 1983 e 1985, em um de nossos Serviços (Casa de Saúde São Raimundo), operamos 193 pacientes, com 3 óbitos (mortalidade de 1,5%). No ano passado, operamos 113 pacientes, com 2 óbitos (mortalidade de 1,76%), sendo que um dos óbitos foi após uma reoperação com extensa endarterectomia da descendente anterior e, no outro, um pulmão super-inflado, devido a enfisema pulmonar, prejudicou a anastomose mamária - DA. Recentemente, influenciados pelos trabalhos de Buffolo e col. e de Akins, do Massachusetts General Hospital, tivemos que reoperar um paciente com angina instável, cuja pneumopatia grave impedia o emprego da circulação extracorpórea. F.R.R., com 43 anos, em 1973, recebeu dupla ponte de safena para uma coronária direita (CD) dominante e para uma descendente anterior (DA) de fino calibre. Evoluiu bem, por 12 anos, do ponto de vista cardíaco. Em setembro de 1985, devido a angina instável recurrente, foi submetido a cinecoronariografia, que revelou oclusão total da ponte para DA e estenose proximal da ponte para CD. O quadro pulmonar com bronquiectasias, febre e expectoração contra-indicava o uso de circulação extracorpórea. Em outubro de 1985, foi realizada nova ponte de safena da aorta para o enxerto da coronária direita, distai à obstrução, no terço médio. Durante o ato cirúrgico, o paciente recebeu altas doses de dopamina e xilocaína. O curso pós-operatório foi tormentoso, devido ao quadro pulmonar; recebeu alta no 10º dia pós-operatório, ainda em regime de antibióticos. Um mês após a alta, não apresentava angina do peito, mesmo depois de longas caminhadas. A apresentação do caso justifica-se por:

1) possibilidade de emprego da técnica em casos similares, conforme sugerido por Buffolo e col.

2) estudo da função ventricular, 12 anos após 64 minutos de parada cardíaca em normotermia e sem soluções cardioplégicas (fração de ejeção 55%).

PROF. ADIB D. JATENE
São Paulo, SP

Gostaria de fazer um comentário adicional. O número de artérias lesadas é maior, para o grupo de pacientes operados com circulação extracorpórea. Isto sugere que os grupos são diferentes, sob o ponto de vista de doença coronária. Perguntaria se esta diferença do grau de comprometimento arterial não dificulta a comparação da mortalidade e das complicações pós-operatórias, nos dois grupos.

DR. BUFFOLO (Encerrando)

Agradecemos, inicialmente, o comentário do Dr. Jucá e aproveitamos a oportunidade para cumprimentá-lo pelos excelentes resultados obtidos, conseguindo operar com mortalidade hospitalar bastante baixa. Infelizmente, a nossa mortalidade não é esta; mesmo nos anos recentes, após extensa experiência com a revascularização miocárdica, atingimos uma estabilidade de cifras de mortalidade que, para pacientes consecutivos e não selecionados, oscila entre 4 e 5%. Desta forma, a revascularização miocárdica sem a circulação extracorpórea, representou, para nosso ambiente de trabalho, um progresso indiscutível, no que diz respeito à diminuição do risco operatório. Para os grupos que conseguem realizar revascularização com risco cirúrgico inferior a 2%, esta alternativa tática realmente não é atraente. Respondendo ao questionamento, aliás muito pertinente, do Dr. Adib, sobre a validade da comparação entre os dois grupos, acreditamos que eles, na realidade, o sejam, uma vez que não diferem basicamente quanto ao grupo etário e à função ventricular. Saliento, no entanto, que, se alguma diferença existe, quanto à situação clínica dos pacientes, ela é desfavorável em relação ao grupo operado sem extracorpórea. Estão incluídos, na casuística apresentada, pacientes que só tiveram a indicação cirúrgica confirmada pela possibilidade de serem operados sem extracorpórea, incluindo casos de doença pulmonar obstrutiva crônica de grau avançado, idades acima de 70 anos, com mau estado geral, pacientes extremamente obesos com peso acima de 100 quilos, ou, ainda, poucos casos de pacientes com insuficiência renal grave em programa de hemodiálise. Curiosamente, ainda enfatizamos que cerca de 22% dos pacientes desta série foram operados na fase aguda da insuficiência coronária, com revascularização pós trombótica, infarto em evolução, após angioplastia mal sucedida, ou, ainda, em síndrome intermediária, demonstrando que a casuística não foi selecionada.

REFERÊNCIAS

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