Article

lock Open Access lock Peer-Reviewed

22

Views

RELATO DE CASO

Correção simultânea de defeito congênito intracardíaco e pectus excavatum

João Roberto BredaI; Ana Silvia Castaldi Ragognetti BredaII; Sueli Aparecida GASTALDIII; Andréa Cristina Oliveira FREITASIII; Altair da Silva COSTA JÚNIORIV; Adilson Casemiro PiresV

DOI: 10.1590/S0102-76382007000300015

INTRODUÇÃO

O pectus excavatum é uma deformidade da parede torácica que pode ser encontrada em crianças, e seu reparo é apresentado em alguns trabalhos com bons resultados operatórios [1-4]. Porém, existem controvérsias em relação à idade ideal para a correção desta deformidade, quanto ao uso de incisão vertical ou horizontal e, na presença de defeito cardíaco congênito, se a operação deve ser feita em tempo único ou separado [5-7].

O objetivo deste trabalho é relatar operação simultânea para correção de comunicação interatrial por atriosseptoplastia (com circulação extracorpórea) e reparo de pectus excavatum através de incisão longitudinal.


RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, com 8 anos de idade, foi encaminhado com diagnóstico clínico e ecocardiográfico de comunicação interatrial do tipo ostium secundum, com moderada repercussão hemodinâmica. A inspeção da parede torácica revelou deformidade anatômica do tipo pectus excavatum (Figura 1), que foi confirmada pela radiografia simples de tórax (Figura 2).


Fig. 1 - Deformidade tipo pectus excavatum


Fig. 2 - Radiografia simples de tórax



Com o intuito de avaliar a gravidade desta deformidade, foi realizada tomografia computadorizada de tórax, com o cálculo do índice de Haller, que corresponde à relação entre o diâmetro transverso e anterior do tórax, cujo valor obtido foi de 4,3. Índices acima de 3,25 indicam maior gravidade do defeito e necessidade de reparo operatório (Figura 3) [7].


Fig. 3 - Tomografia computadorizada de tórax



A técnica operatória envolveu, inicialmente, a correção do defeito intracardíaco. Realizada esternotomia mediana e heparinização sistêmica (4 mg/kg), com instalação do circuito de circulação extracorpórea (canulação da aorta ascendente e de ambas as cavas). A correção da comunicação interatrial foi feita por via atrial direita, com sutura de retalho de pericárdio bovino, à borda do defeito. A operação foi realizada em normotermia, utilizando-se como método de proteção miocárdica a hipóxia controlada, com pinçamento aórtico intermitente.

Após a atriosseptoplastia e saída de circulação extracorpórea, com reversão da heparinização, teve início a correção da deformidade torácica.

A operação do pectus excavatum foi feita por osteocondroplastia, do quarto ao oitavo arcos costais, subpericondrialmente e bilateralmente, segundo a técnica proposta por Robicsek et al. [8]. Após a retirada destes fragmentos ósseos, o esterno foi fraturado no ponto de depressão e, a seguir, fixado de forma paralela, corrigindo a deformidade anatômica. A retirada da cartilagem costal permite um fácil deslocamento da parede anterior do tórax, que, após a fratura esternal, pode ser posicionada de forma alinhada (Figura 4) [9].


Fig. 4 - Fixação paralela do esterno fraturado no ponto de depressão após ressecção dos arcos costais



Ao término da operação (Figura 5), o paciente em normotermia foi encaminhado à Unidade de Pós-Operatório, onde foi monitorizado continuamente.


Fig. 5 - Aspecto final



DISCUSSÃO

A presença de defeito congênito intracardíaco associado à deformidade da parede torácica do tipo pectus excavatum apresenta incidência que pode variar entre 0,17 e 0,50% dos casos, e ainda, representa um dilema para o cirurgião [8]. O pectus excavatum pode produzir uma alteração na posição habitual do coração, tornando a esternotomia mediana uma via de acesso, por vezes, não satisfatória para a correção simultânea de defeitos intracardíacos [1]. Assim, alguns autores passaram a propor a operação em tempos separados, devido à preocupação com maior incidência de complicações hemorrágicas, infecção de esterno e/ou tempo operatório prolongado [9]. Em 1997, porém, Willekes et al. [10] publicaram uma baixa incidência de complicações em nove pacientes operados com correção simultânea dos defeitos.

Outro argumento favorável à correção de ambos os defeitos no mesmo ato operatório está relacionado à compressão das estruturas cardíacas, após o reparo da anomalia congênita, com conseqüente impacto hemodinâmico negativo nestes pacientes.

Várias modificações técnicas foram introduzidas com o objetivo de se obter a maior estabilização óssea possível, diminuindo a possibilidade de recorrência desta deformidade na evolução pós-operatória [5].

Uma das alternativas para correção do pectus adiciona uma divisão longitudinal ou transversal do esterno, com mobilização ou excisão das cartilagens deformadas, sem a utilização de suporte metálico para estabilização esternal [6,8].

Outra abordagem envolve o uso de barras metálicas abaixo do esterno por um período de até 6 meses, sendo que, aqueles que defendem essa técnica, sugerem uma maior estabilidade óssea no pós-operatório imediato, associada a menor intensidade de dor [10].

Vale ressaltar que, independente da técnica escolhida para correção do pectus, a viabilidade do esterno e das cartilagens pode ser mantida pela preservação de ambas as artérias torácicas internas.

Outro fator de controvérsia é a idade ideal para correção do pectus excavatum, principalmente pela possibilidade de recorrência da deformidade, sobretudo nos pacientes operados abaixo dos 4 anos de idade. Assim, nos casos de operação precoce, é recomendável a remoção de um número reduzido de cartilagens costais, evitando-se a sutura do pericôndrio remanescente ao redor do esterno.

Em alguns casos, a presença de pectus excavatum pode não permitir acesso adequado às estruturas intracardíacas, devido à dificuldade de colocação do afastador esternal, quando a via de acesso é a esternotomia mediana. No caso operado em nossa instituição, esta via permitiu acesso adequado ao coração. Além disso, a técnica escolhida para correção do pectus apresentou um resultado estético inicial satisfatório, uma vez que a técnica utilizada pode cursar com recidiva da anomalia anatômica. Não houve dificuldades para controle da dor, e tampouco complicações respiratórias restritivas no pós-operatório. O paciente recebeu alta hospitalar no sétimo dia de internação, em boas condições, e permanecerá em acompanhamento ambulatorial.

Assim, apesar de se tratar de um caso isolado, o resultado inicial foi satisfatório, e a evolução em longo prazo poderá mostrar a viabilidade desta técnica, na ausência de recorrência da deformidade torácica.


REFERÊNCIAS

1. Okamura T, Nagase Y, Mitsui F, Shibairi M, Utsumi K, Watanabe H. Simultaneous repair of pectus excavatum and congenital heart defect in adults by using the convex bar. Ann Thorac Surg. 2004;77(5):1827-9. [MedLine]

2. Haller JA Jr, Scherer LR, Turner CS, Colombani PM. Evolving management of pectus excavatum based on a single institutional experience of 664 patients. Ann Surg. 1989;209(5):578-82.

3. Kowalewski J, Brocki M, Zolynski K. Long-term observation in 68 patients operated on for pectus excavatum:surgical repair of funnel chest. Ann Thorac Surg. 1999;67(3):821-4. [MedLine]

4. Golladay ES, Wagner CW. Pectus excavatum: a 15-year perspective. South Med J. 1991;84(9):1099-102. [MedLine]

5. DeLeon MM, Magliato KE, Roughneen PT, Graham L, Kudukis TM, DeLeon SY. Simultaneous repair of pectus excavatum and congenital heart disease. Ann Thorac Surg. 1997;64(2):557-9. [MedLine]

6. Jones WG, Hoffman L, Devereux RB, Isom OW, Gold JP. Staged approach to combined repair of pectus excavatum and lesions of the heart. Ann Thorac Surg. 1994;57(1):212-4. [MedLine]

7. Haller JA Jr, Kramer SS, Lietman SA. Use of CT scans in selection of patients for pectus excavatum surgery: a preliminary report. J Pediatr Surg. 1987;22(10):904-6. [MedLine]

8. Robicsek F, Daugherty HK, Mullen DC, Harbold NB Jr, Hall DG, Jackson RD, et al. Technical considerations in the surgical management of pectus excavatum and carinatum. Ann Thorac Surg. 1974;18(6):549-64. [MedLine]

9. Hasegawa T, Yamaguchi M, Ohshima Y, Yoshimura N, Oka S, Ootaki Y. Simultaneous repair of pectus excavatum and congenital heart disease over the past 30 years. Eur J Cardiothorac Surg. 2002;22(6):874-8. [MedLine]

10. Willekes CL, Backer CL, Mavroudis C. A 26-year review of pectus deformity repairs, including simultaneous intracardiac repair. Ann Thorac Surg. 1999;67(2):511-8. [MedLine]

CCBY All scientific articles published at bjcvs.org are licensed under a Creative Commons license

Indexes

All rights reserved 2017 / © 2024 Brazilian Society of Cardiovascular Surgery DEVELOPMENT BY